como o inverno do ano passado foi muito frio e os mosquitos e fantasmas sumiram daqui de casa por um tempo, fiquei três meses inteiros sem aparecer. uma tarde na padaria, quando comprava pão como um homem de bem, me chegou na cola um seboso pra contar que rebeca tinha sido pega, mas que agora já estava de volta e perguntava por mim.
à noite tive que ir lá e dar um oi pra ela, mas quase não reconheci o vulto magro que vagava pelo bar de moletom e chinelos sujos. cabelo curto castanho e olhos afundados sem nenhuma maquiagem, tentou conversar quando me viu.
- me paga um X-egg?
não era certo terem maltratado assim aquela força loura de plataformas. dei o dinheiro e ela saiu em direção ao carrinho de lanches. quis chorar encostado no balcão, mas ao invés disso pedi a primeira cerveja e desejei que o bacon frito injetasse alguma vida à cara de rebeca.
cumprindo seu papel salvador, roberto começou a cantar na TV e alguma luz piscou além do horizonte porque rebeca entrou pela porta com a boca reluzindo a gordura e já sabendo de novo como sorrir pra mim.
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