o resto da região era infestado de imbecis durões que me convidavam a entrar SE eu tivesse dinheiro pra gastar o nariz, mas rebeca sempre soube receber com um sorriso desinteressado e foi por isso que passei a tratar só com ela. depois de um tempo, até aprendi a dizer delicadezas nos dias em que ela mudava o cabelo.
quando conheci, estava enfiada numa calça 36 e sua cintura tinha um diâmetro perigoso de menina. mas era um menino. depilado, esculpido, maquiado e de cabelos louros platinados. meiga, meu deus, de um jeito que ninguém diria que poderia empacotar qualquer infeliz que denunciasse seu ponto.
funcionava assim: você entrava e pedia uma cerveja, cuidava pra desviar dos viciados veteranos e sentava pra assistir ao roberto fazendo bonito no dvd. de repente, alguma baranga interrompia o rei e começava a cantar no karaokê já que rebeca, muy doce, não sabia dizer não às colegas. então aguentava-se a alma errada microfonando pelo salão até que aparecesse um conhecido pra dizerem em coro a senha ao garçom:
- uma muito gelada, quase nevando.
e a primeira bolota branca chegava em seguida como mágica, grudadinha debaixo da bandeja. não que eu gostasse daquilo. fazia por insônia, medo de fantasma, calor, pernilongos e outras coisas ruins e insistentes que toda noite me obrigavam a descer pra rua.
(continua)
> imagem da bars series, de mary ellen mark
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