sábado, abril 04, 2009

Coroa*


Acontece sempre durante as viagens. Entro no avião, no carro, no ônibus e me meto num tempo em suspensão. Não está mais ao meu alcance resolver coisa nenhuma, me salvar, descobrir qualquer verdade. Tudo o que resta é sentar e me submeter ao ritmo do trajeto, esperar a chegada, acompanhar as nuvens, as vacas, um redemoinho (se der sorte), ou o que mais cruzar a janela em movimento.

E quando as nuvens se tornam repetitivas, as vacas viram pontos brancos e somem, a sorte falha e nenhum redemoinho aparece, sou tomada por um semi-transe, com flashes de memórias desgarradas que me vêm projetadas numa lógica indecifrável, mas hipnótica, frame a frame. É meu efeito deslocamento.

Desta vez, sigo de volta pra Bahia com muita vontade das bananas que meu pai deixa secando em pequenas vasilhas forradas do lado de fora da casa. Mas em vez do frame a frame de lembranças, está grudado na minha cabeça aquilo que vi quando passei pela rodoviária.


* post publicado no blog-relâmpago Coroa, criado a convite de Pablo Lobato como parte da ação em que colocou abacaxis na fachada da rodoviária de BH - programa de residência artística Bolsa Pampulha, dez/2008

Um comentário:

Fernando Grilo disse...

Oi Maria, lembrei de você no seu aniversário, mas estava em Buenos Aires. Parabéns atrasado! Como vai a vida aí em SP? Beijos!