terça-feira, junho 01, 2010

fuga nº4



ali está um bueiro (a palavra é alcantarilla, em espanhol) feito para quem não teme passeios pelo subsolo dos diabos brancos, como o da carta do tarô.

- desça, diz o lobo.
no eco de um bom mistério.

metros abaixo, a vista embaralhada de desejo e perdição, exploro corredores compridos, sem mapa, nem lanterninha. viro menina-morfina, sob um feitiço amoroso que abraça e paralisa.

- dance, ri o lobo.
ao som dos seus maiores medos.

nas galerias que servem como salões de baile, sou vestido, maquiagem, laço grande no cabelo. quase não sei por qual buraco entrei e tenho um arranhão vermelho no pescoço quando a festa termina.

- fuja, rosna o lobo.
com uma boca gigante que me morde sem doer.
ou vai ver, já não me lembro mais.



* imagem da série e[pita]lamicos, de simone pazzini

4 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

o homem é o lobo do homem...

vpaulics disse...

cheguei em mininas 13. nunca mais outras mininas? e achei este pedaço. lindo pedaço para se passar e passear.

maria lutterbach disse...

veronika, mininas estão de recesso indefinido. tbm sinto saudades. venha sim, vou te passear tbm.

Domingas Alvim disse...

O que nos manda fugir é o que nos caça... Mas quem quer correr da vida sem largar um pedacinho da carne nos dentes dos medos? Eu não, vc?

Suas letras inspiram...