quinta-feira, junho 21, 2007

Hola, Carinõ

Lembra que eu te chamava assim? Fico de cá tentando esconder de mim essas reminiscências de chamego em uma moringa bem tampada e penso que você talvez tenha a mesma mania. Hoje fiz um passeio demorado pelo centro e acho que você teria detestado, mas eu andava com vontade daquela agitação em acompanhar o movimento de fim do dia, quando as pessoas se acotovelam pra tentar chegar em casa voando. No centro, isso acontece aos berros. Sei que não te apetece muito olhar essas ondas de gente que se espalham, nunca foi do seu agrado reparar assim nas pessoas. Elas indo e vindo, ou esperando o ônibus, amortecidas ou resignadas com mais um dia de trabalho e ainda todo o caminho de volta. Mas a mi, me encanta, sabe?

Não sei se te contaram, mas estive fora da cidade um tempo, até andava um pouco enjoada das ruas, esquinazinhas de sempre, conversas de bar, esse diz-que-diz me deixando meio dormente. Achei melhor descansar. Então vi que até dá pra desviar um pouco o pensamento quando a gente viaja e chega em outro canto, mas logo estamos de novo metidos com as figuras e histórias do lugar, com o tempo que rege as coisas por lá e com as novas esquinas, que de pouco em pouco começam a acenar como velhas conhecidas.

Andando de novo no centro, depois de meses sem assistir a turba que serpenteia por ali, me lembrei de você com força e quis me colocar a correr como eles, mas eu sem destino nenhum, só por correr, suar um pouco e espantar o aperto. Aí me dei conta de que seria mais uma louca no turbilhão das seis e meia. Pensei: “mais prudente é cuidar da lembrança com tato” e planejei que, chegando em casa, te bordaria uma carta em papel corado.

Quem sabe você, nas suas próprias manias, também teve uma memória qualquer esses dias e quis me dizer, mas depois achou melhor não? No meio da rua, cercada de gente, badalando junto com o sinão da igreja São José, teve essa hora em que pensei de verdade que era só mais uma, largadinha mesmo. Mas escrevendo pra você agora perdi a má impressão, até respirei de novo e me deu vontade de te tocar bem de leve as pálpebras.

15 comentários:

Anônimo disse...

lindo de morrer.... pálpebra!

Anônimo disse...

ana

Anônimo disse...

sempre nom passar por aqui :-)

Anônimo disse...

indo e vindo.
indo e vindo.
indo e vindo.
indo e vinho...
ai veio você.

parei e olhei.
olhei e pensei.

"[sordidez inversa / às avessas]"

olhei novamente.
e você já não mais estava.

Anônimo disse...

curioso anonimato de seus leitores. suspeito que sua beleza e inteligência nos amedronte.

Anônimo disse...

explico a tese acima. é que o machismo faz com que nos, garotos, tenhamos medo, pavor, de ser avaliados (julgados) por garotas, especialmente as belas, como é o caso aqui.

Anônimo disse...

nunca li tantas bobagens quanto estas acima.

1º - a beleza e a inteligência de maria só me apetecem. no entanto, aqueles que têm muita fome por vezes preferem engolir o silêncio.

2º - que "tese" mais machista creer que os admiradores de maria são somente homens...

[anônimo(a) que redigiu os versos]

maria lutterbach disse...

ush! acho que vou guardar as cartas na gaveta e voltar com as historinhas... =)

Anônimo disse...

lindo! E divido com ana a delícia da pálpebra.Também adorei a saga de letícia, abaixo.

beijos catá

ps: não deixa a chatice chegar aqui não!

Clara Gontijo disse...

Pensando em coisas submersas me lembrei que já tinha ouvido algo como notas submersas e busquei no google. Algum dia já tinha esbarrado em seu blog, mas por algum motivo acho que passei sem deixar registrado meu encanto pelos seus textos. Parabéns, são simples, emocionantes, textos dos melhores que já li pela internet.
Felicidades e sucesso para você.

Clara Gontijo

Anônimo disse...

gosto da delicadeza de seus textos... agora vou te visitar sempre.

maria lutterbach disse...

tô feliz com as visitantes novas!

Clara, que legal vc ter gostado dos textos, brigada mesmo =)

e Mari, vc é mais que bem-vinda por aqui, sempre.

bjos e cariño

Anônimo disse...

o "anônimo que redigiu os versos" confirma a tese e permanece anônimo.

eu, covarde que sou, também só apareço escondido.

Anônimo disse...

nossa, maria.
que bonito.

Anônimo disse...

super super delicado esse texto que termina na pálpebra. espera aí que vou ler outros por aqui.