quarta-feira, maio 30, 2007

colecionando Letícia

Engole um pedaço de bolo de mandioca e por cima dois goles grandes de café pingado porque vai andar quilometro e meio pra chegar no Corró. Chutando pedras com a bota sete-léguas, desbrava o caminho e só se conforma de ter abandonado a cama quando começa a resgatar pedacinhos do último sonho da manhã. O da noite, mais comprido e complicado, ela não alcança mais na memória.

Como é menina de fazenda, tem sonhos de fazenda - é galinha, grilo e goiaba arrancada do pé. Mas às vezes também vem com ousadia pra sonhar as cidades nebulosas que ela ouve os vaqueiros contarem. Eles vivem sempre mudando de um lugar pro outro e trazendo notícias que Letícia não sabe bem se são verdade ou meio inventadas, então ela acredita um pouco e desconfia a outra parte.

Na trilha pra salinha, vai colecionando folha, flor e raiz que enfia dentro dos livros e deixa secar pra ver mudarem de cor. Quando distrai, já venceu a distância e chega pra se juntar aos outros moleques: uma voz a mais na confusão, ganha quem fala mais alto. No meio da balbúrdia, deixa de lado seus caprichos e vira Letícia de todos, a plenos pulmões.

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