sábado, fevereiro 03, 2007

ocupações

Era só reparar se o zelador fazia direito seu trabalho, resolver uma pendenga ou outra entre vizinhos e fechar as contas do condomínio no final do mês. Cuidar daquele prediozinho de três andares podia ser coisa das mais triviais. Mas ali mora Dona Carminha que, em algum momento de um passado remoto, se viu eleita síndica. Com ela, aprendi que uma mulher de meia-idade sem muitos dotes e nenhuma outra ocupação na vida, quando vira síndica, é capaz de travestir a função numa pequena e irreversível tragédia pessoal.

Dia após dia metida em vestidinhos puídos e desfilando bobs no lugar de cabelos, Dona Carminha tem um par de olhos escondidos atrás de óculos enormes com lentes invariavelmente turvas - levou a história de ser a síndica tão a sério que se apresenta como caricatura de si própria. Às voltas com a segurança do prédio, com a ordem dos carros na garagem, com a quantidade de sapólio que o zelador desperdiça limpando a escada, não deve ter nem 60 anos e já desenha a própria reta final.

A síndica, que um dia já foi Carmem e até chegou a cultivar alguns sonhos na gaveta, não acha mais tempo pra pensar em uma fuga qualquer. Porque a grama ainda está por cortar e o portão continua com aquele defeito, ela precisa continuar.

Um comentário:

Anônimo disse...

precisa continuar.

ainda bem.

ter uma ocupação é sempre bom! cura até doenças!

vc foi da sala da nanda penna, né?! ela me contou!