domingo, fevereiro 11, 2007

uma pinóia

Tem cheiro de monotonia e não podia ser diferente: é uma cidadela cravada sozinha no meio do nada e sem nenhuma pretensão de um dia crescer pra ser coisa alguma. Apesar da pasmaceira, ou talvez justamente por saber que o destino não lhe reserva grandes surpresas, Juatuba guarda alguns caprichos. Cercada de pontilhões e pontezinhas que brotam como quem não quer nada, é cortada na beirada ao norte por uma linha de trem. Quando passam, os vagões sempre fazem as pessoas dali lembrarem dos outros destinos na geografia, mas depois que o barulho acaba, a maioria esquece rápido que existe um mundão lá fora. Dá é trabalho sair do lugar, então vão ficando.

Pra fazer o tempo passar, os juatubenses inventam coisas como uns mercadinhos de meia-porta onde você compra desde toucinho até espelhos de borda alaranjada e ainda leva de brinde um dedo de prosa pra animar o dia. A cidade achou ritmo próprio e caminha assumindo alguns singelos despudores - `a noite, sai gente pra rua atentada, mas sempre fingindo que saiu pra contar estrela até o sono chegar. Dia de sábado vai o povo todo pro parque na maior aflição de se divertir. Já sabem bem que logo o dono do parque cansa, desmonta tudo e cai na estrada pra só voltar sei lá quanto tempo depois, então brincam com todas as forças, chegam exaustos em casa e dormem sorrindo.

Na pracinha perto da rodoviária onde os homens param pra conversar e palitar depois do almoço, de vez em quando chega um visitante desavisado: "Onde é que fica o centro de Juatuba?" Ao que eles riem entre e si e um responde: "O centro de Juatuba é essa pinóia que cê tá nela". Alguns juatubenses (seriam juatubanos?) até sentem um desejo desvairado de dar no pé, conhecer o centro mesmo de uma grande cidade, fazer e acontecer, mas escondem em segredo. É uma função danada essa coisa de mudar, então melhor levar tudo assim aos poucos e espanar o pensamento quando a vontade bater.

Um comentário:

Anônimo disse...

maricota, seu blog é uma delícia!
2007 é para bloggear
bjo