quarta-feira, fevereiro 21, 2007

ilusionismo

Primeiro porque começou a se achar incompetente pra vida e precisava de um alívio. Depois porque uma moça um dia estapeou o coração dele e, por fim, já tinha mesmo se apegado `aquela luz baixa do Mirage que faz o cenário parecer sempre bem mais interessante do que realmente é. O bar fica ali em Santa Efigênia, no segundo andar de um sobrado, virou reduto de Durval tem bem um tempo. Cai a tarde, vai lhe dando uma aflição e tudo o que ele consegue fazer é pular pra fora de casa lá pelas onze, voltando só quando a noite já é quase dia.


No Mirage, ele descobriu que garçon que se preza guarda melancolia no canto da boca: “quem serve bebida no mínimo vira cúmplice da esbórnia”, costuma dizer, com gin atravessado até nos ossos. A mania pela bebida rende ressacas medonhas, mas Durval se acostumou ao estrago. Movimentos leves, coca-cola com muito gelo e algumas aspirinas resolvem até os casos mais cruéis - quando dá onze horas, fica em pezinho pra seguir de novo pro bar. Porque aquela luz baixa e os drinks deslizando no bom e velho balcão fazem tudo sempre parecer melhor do que realmente é.

O que mais se vê por lá são marmanjos semi-bobos ou bobos irreversíveis. As mulheres que aparecem geralmente chegam desavisadas, mas entendem rápido que, dali, não pode sair boa coisa. Algumas mais engajadas encaram o desafio de atravessar a noite vagando entre a pequena pista de dança, o banheiro e o bar. O Durval acha que elas contam com a ajuda da luz baixa pra desfilarem como se fossem mais bonitas do que de fato são.

A uma certa altura, quando restam só os que estão bêbados demais pra abandonar o barco, paira no ar o rastro do movimento inútil da noite - o chão imundo e um resto de música caribenha que zune bem dentro do ouvido. Agora a pouca luz não consegue esconder mais nada, mas Durval já foi anestesiado e pode voltar pra casa sem culpa nem memória.

3 comentários:

SS. Siboney disse...

ei maria
como te disse,,, já ensaiei outras vezes escrever aqui, mas nunca chegava ao final do comentário e o timing acabava
estou no meio da minha tarde perdida buscando soluçoes pra minha vida, coraçao cheio e bolso vazio, sabe como é? aì vim passear aqui pra matar um pouco mais do tempo e dizer que adorei te conhecer, que bom que vc viu minhas borboletas e me deu oi
to com uma fotinha sua como que eu te mando?
bjoca

maria lutterbach disse...

Si! coração cheio é bom demais e bolso vazio a gente dá um jeito, né? manda a fota pro marialutterbach@gmail.com
vamo que vamo, bjos!

Anônimo disse...

Maria,

Que bom descobrir mais de suas letras. Fomos vizinhas na última edição da Mininas (eu fiz a capa).

Tive bons passeios por aqui : )

volto.