sem anúncios, um minitúnel no pátio nos fez comemorar a entrada no prédio, às escondidas, com o azul do céu de belo horizonte versus o vento soprando dentro da passagem. fomos sábias em escolher o abrigo porque eram tantos pombos em tantas janelas de apartamentos tão espremidos em cima de nós que só ali estaríamos salvas para experimentarmos vozes (pelo eco) e tragarmos juntas (enfumaçando o tubo), ou fingirmos alguma paixão, mas preferimos não. cansamos do túnel, pelo tédio, e enfrentamos a possível chuva de merda de pombos em uma nova aventura, mas nada caiu do céu, nem do cú dos pássaros, e então nos lembramos da missa, que era afinal nosso primeiro motivo. o culto, nos reais subterrâneos do prédio, numa igreja universal do reino de deus, onde nos sentamos minúsculas nas poltronas, achatadas diante dos uniformes dos obreiros, quietando risonhas e aéreas. mesmo encolhidas, ouvimos os gritos deles e eles, em troca, nos enfiaram nas mãos, a cada uma, um sabonete do descarrego que me deu calafrios, mas que a Joana serviu para o banho de dois dias. mais destemida depois de atravessar o túnel, se lavou com a barrinha até que ela se afinasse quase toda entre ombros e pernas e depois virasse só espuma suave derretida pra sempre no calor do seu suvaco.
2 comentários:
melódico sem ser melado
o contrário
sem ser bucólico, molhado
(escritos deliciosos, os seus)
beijoca
que bom vc aqui, mulher
quero mais rio em breve breve.
besi
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