ruídos em Letícia
A escola é uma casa modesta de madeira com uma salinha só, um banheiro e uma varanda pequena. Em volta, vai toda cercada de madeira mal-ajambrada, feiosinha mesmo, mas ninguém liga que seja assim. Demorou pra ter escola na vila do Corró e foi uma alegria infestada quando conseguiram subir ela do chão. Mesmo sem muita pintura e com umas frestas ainda por tapar, todo mundo da vila acha que a ela já é boa demais, uma benção pros meninos. Foi um custo construir porque a chuva seguia eterna e a estrada de terra derrapava tudo – carro não andava nem meio metro, bobagem até tentar.
Letícia mesmo assistiu a carreta com o material atolar umas cinco vezes. Chorava que era de dar dó. Cada vez que o sol abria, ela corria as canelinhas e montava na porteira pra esperar: “Sem chuva, ela passa”. Escutava lá longe o barulho da carreta que depois virava um pontinho branco na estrada e crescendo, crescendo, chegava sacolejando ali bem na frente dela com os tijolos e as ripas e os sacos de cimento trazidos da cidade. Era a escola acontecendo aos poucos.
No dia que viu a salinha pronta, Letícia chorou outra vez, mas já foi choro bom porque sabia que no dia seguinte ia poder usar a camiseta branca, o short azul-marinho e a bota sete-léguas. A roupinha tinha ficado guardada no armário pra mais de ano e agora já apertava um pouco, mas ficou formosa mesmo assim por causa do sorriso que a pequena estampou pra abocanhar aquela primeira manhã de escola.
Do mesmo jeito que Letícia, tem outros 30, 40, com umas vozezinhas agudas que fazem o Corró ter um ruído certo todo dia, sempre das sete até às onze, hora de bater o sino e eles voltarem pra casa. É um barulho que começa devagar, mas vai ganhando fôlego com meninos falantes enlouquecendo a tia e Letícia cantarolando no recreio as cantigas do jeito que ela imaginou. Canta forte e bem gritado, mas pensa baixinho que sonho é bom quando acontece.
5 comentários:
formusura sete léguas
lindosidade
adorei, beijoca
ana
Não tem estrada que atrapalhe um sonho bem sonhado. Ainda mais de criança que tem tempo pra esperar de camiseta branca e short azul-marinho.
Lindo o texto
Beijos
Lucas dos Anjos
me encantou, maria. me encantou.
Maria,
que boniteza a maneira que você no leva pela mão com suas frases. Bom demais esse passeio. Teve cheiros.
Você vai se aproximar das bandas de cá?! Ora, pena que não vem a Salvador... vê se dá uma esticadinha pra cá!
beijo grande!
Ah, Vânia, bem que eu queria mesmo dar um chego até aí! quem sabe eu consigo? a gente vai se falando, né? gosto mto das suas visitas aqui. 1 bjo!
Postar um comentário