domingo, outubro 12, 2003

Da utilidade dos dias cinzas.

Quando você acorda de manhã, espia pela persiana e se depara com muitas nuvens no céu e nenhum azul, a obrigação de dar um oi pro mundo cai pela metade -- ou multiplica-se a vontade de dar um foda-se? tanto faz.

Belo Horizonte é uma cidade clara demais, ensolarada além da conta, com manhãs de sol ostensivo que parecem empurrar todos os seres pra vida, sejam animados ou inanimados. Além da gente, que sofre em ter que pular rápido da cama e cair na roleta, os postes, as placas, os canteiros mal-cuidados, cada coisa é ordenada a exercer sua função de poste, placa e canteiro mal-cuidado até que a noite caia e um suspiro capte novos ares para o resto das horas, agora menos urgentes.

Tudo.

É como se o sol escrevesse na sua cara com letras alaranjadas berrantes que não dá pra esperar mais, que as coisas precisam ser feitas e, ah, é tudo um pouco exagero.
Mais um tempinho na cama espreguiçando ou olhando pras sombras no teto. Ouvido acostumando aos poucos com os barulhos da casa e cabeça tentando imaginar onde o gato está deitado agora. Isso é um pouco do que se ganha quando há nuvens bloqueando o autoritarismo solar belo-horizontino.

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