a gente pode começar o dia praguejando e mudar de opinião no meio do caminho, se alguém ou alguma coisa ajuda a lembrar que é apenas mais sábio desfrutar.
então vejo o pequeno acordeon colorido que você comprou em Santa Ifigênia: azul com teclas rosas, tiras de couro, todo convidativo e generoso mesmo em mãos nada musicais.
é preciso admitir que aquela ideia, inspiração, fogo transformado em acordes só poderia salvar o dia. com a sanfoninha gemendo no colo, atravessamos as avenidas mais hostis da cidade munidos de um sorriso inaceitável para o resto do mundo (surdo).
somos fugitivos e temos um instrumento mágico, mas nenhum motorista compreenderá, muito menos a menina prostrada no último banco do ônibus.
enquanto o trânsito e o rosto dela ficam pra trás, vemos saltar declarações ardentes pichadas em homenagem ao mito Carlos Adão. como nós, ele trabalha com paixão e delírio e, por isso, tem o nome gravado a pulso firme nos muros e faixas de pedestre: um grande homem, aquele que dá prazer.
aos meus olhos enviesados, Carlos Adão é um letreiro. confissão final de todos os amantes e clandestinos que perderam a vergonha de se derramar por aí no meio da tarde. em dias assim, somos como letras verdes, fosforescentes e petulantes que brilham muito, mesmo quando fica escuro.
Um comentário:
linda.
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