chegamos a Santos por uma entrada torta e encaramos o pedaço de cidade mais feio do Oeste. seco e ensolarado, abandonado e sujo. para o taxista maluco que nos guiava e se perdia, o cenário era promessa de alívio pra uma existência desperdiçada ao volante.
# buzina, fumaça e trânsito terrorista nas ruas paulistanas.
ainda nenhum sinal de mar, mas ele já brilhava os olhos apontando os prédios despedaçados e perguntando a si mesmo, em voz alta, quanto custaria uma kitnet. trinta e cinco metros quadrados para cinquenta e seis anos de angústia, olheiras e palavrões.
#doença de retrovisor, ambulância, motoboy.
quando viu a praia, gargalhou, nos deixou na calçada e foi rodar, ensaiando sua meia-idade livre e solitária à beira-mar. Miami era ali. a praia estava suja, o sol já tinha ido embora, as mulheres eram brancas e flácidas e a paella foi bem mais cara do que boa.
#domingo.
subimos de volta a serra à noitinha com sonhos desencontrados. o devaneio alegre do taxista durou até o primeiro sinal fechado. bastou piscar de novo a luz vermelha e a kitnet santista se embolou na sua teia gigante de nós cardiovasculares. uma semana e meia depois, o coração maluco explodiu sem dó, nem direito a aposentadoria.
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