Um dia de viagem para meninos que nada sabem, a não ser que desejam, latejam, temem e se embebedam com o próprio medo que cresce e coça enquanto a noite chega – e quem dormirá do lado de quem? Nós dois, por supuesto, nossos colchonetes não sacolejaram juntos no porta-malas à toa, vieram para se esticar lado a lado, mesmo que você morra antes de admitir.
Os mosquitos gigantes do Baixo Araguaia que comem meus dedões e zunem na minha orelha não me desconcentram um segundo da sua respiração, ela abafa meu sono e me faz melar de suor e visgo a três palmos de distância do seu calor. Somos sempre úmidos porque faz 38 graus molhados mesmo no escuro. E fedemos um pouco mesmo depois do banho porque não sabemos lavar direito nem pau nem buceta e muito menos passamos desodorante porque somos meninos meio sujos, meio lindos, que nem amar ainda aprendemos, mas queremos algo parecido.
Amanhã cedo você vai acordar grande, branco, do alto dos seus quinze esmagadores anos, vestir seu calção preto e fingir de novo que não gosta da minha companhia, quando sou sua única diversão aqui. Provando que estou certa, vai me colocar numa jangada (eu e sua irmã, pra não dar nas vistas que sou só eu que você quer) e nos levar pra navegar pelo rio, parando em todas as ilhotas de areia pra nos ver correr um pouco e depois deitar, douradas, sem peito nem nada, mas muito adolescentes e cruéis.
O sol vai estar tão quente e tu tão confiante de ser nosso capitão que não vai ser difícil te enganar com visões, inventar um jacaré na moita, jogar sua hermanita pra uma arraia e acabar com você e com o seu orgulho sendo uma mulher com apenas doze anos.
8 comentários:
arrasou. ponto.
beijos
:)
Total!
rasga, sete lagoas!
Nossa - que maravilha!
uau!
maria deixa a todos assim, com poucas palavras.
Lindeza tropical.
barra pesada.
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