sábado, janeiro 31, 2009

o dia em que viramos macacos




não teria sido mal continuar empoleirada na cadeira dourando a alma no resto de sol morno até que ele descesse ao mar. isso com as ilhas cagarras se reproduzindo em frente, corpos lisos se reproduzindo em torno e o créc do biscoito globo embalando nossos planos atrapalhados. mas vieram gotas grandes de chuva naquela hora seis da tarde e nos juntamos à arrevoada de gente nua e arenosa que se arrancou da praia até o asfalto.

no sinal-semáforo-farol desceu mais água, mas gente sem roupa gosta de chuva, chega a esticar a língua pra fora da boca e beber um pouquinho, vira assim de banda pra deixar que escorra pelo pescoço, ‘só não pode molhar o celular’, fala a voz carioca.
na demora pela travessia, olhamos pra trás e o mar virou fundo de outdoor pra enorme linha de pessoas molhadas que esperava o sinal verde acontecer.

quando abriu pra nós, ninguém correu, soltou gritinhos nem sacou qualquer guarda-chuva da bolsa porque adentrávamos na selva e as árvores nos protegeriam. subitamente lindos, viramos todos macacos sem chinelos, dominamos as ruas gargalhando, nos secamos ao vento e terminamos o dia vencidos só pelo cansaço.



* telas de graziela pinto -- mais na piscina-galeria

Nenhum comentário: