sábado, setembro 13, 2008

paraíso à consolação

fica mais difícil dirigir quando desce em São Paulo a névoa alaranjada das duas da manhã, mas esse motorista gosta de não poder enxergar quase nada do asfalto. metade corajoso, metade suicida, já encarou neblinas tão bravas que desenvolveu a arte da vidência sobre a proximidade de esquinas, curvas e cachorros que atravessam as ruas sem antes olhar para os dois lados.

a neblina não é nada para o Motorista e também não seria pra você, caso tivesse passado um quarto do azar dele nas coisas do coração. o caso é que nunca teve apenas tara por mulher, e sim uma crença tão forte no amor que sua sina não seria outra senão a tragédia. uma fé grande o bastante pra ir e voltar a Ipatinga pelo menos três dúzias de vezes em cinco anos de namoro, por exemplo. “era igual você, mineira. tentaram me avisar que era complicado de mexer”.

foi paixão pra mil e seiscentos quilômetros de gasolina por viagem, mais quilos de misto-quente com café pelo caminho e um fiat uno tão rodado e inundado de ansiedade e lágrimas que o Motorista nunca pôde passá-lo adiante. ao chifre, pois. uma viagem à fazenda de um parente nas férias e a Mineira de repente some, desaparece do radar. celular na caixa posta eterna, ninguém em casa dava notícia e o namorado em São Paulo com uma nuvem negra sobre a cabeça de 800 quilômetros de extensão.

de forma que não se aguenta e falta botar uma venda nos olhos ao pegar de novo a Fernão Dias pra ir atrás da desaparecida.
a família desconversou, os amigos evitaram, a Mineira não deu as caras e o homem saiu da cidade tão no escuro quanto chegou.

foi ali que levaram a alma dele e no lugar cresceram olheiras gigantes que por pouco não alcançavam suas bochechas.

muitos meses e cachaças depois, a falecida liga pra enfim contar que tinha conhecido um rapaz na tal viagem e que conversa foi, conversa veio, pegou neném. “e meu sonho era ter um filho com ela”, me sussurra o Motorista, por trás dos olhos empretecidos. ao que chego em meu destino sem coisa melhor pra dizer do que "continue bebendo e me dê melhor notícia sobre a história na próxima corrida". “mas única boa notícia, menina, é que acabou”.

e sobem os créditos: só amam às dentadas os valentes capazes de perder ao menos um mindinho ou um naco de orelha no fim do jogo.

Um comentário:

.ludmila ribeiro. disse...

ui...

mariá bunita
(e-)meio contato num vale né?
alô?
perdon, já volto aí e te acho.

beijos e lambidas ! ;)