começa assim, como um atrevimento de meia-estação, uma valentiazinha besta de encher uma mochila até a tampa e sair pra passear.
de uma madrugada prum dia azul, poder pular dentro de águas quentes e calmas. se espichar depois em lençóis que mãos invisíveis trocam todas as manhãs assim que deixamos o quarto.
ganhar cor de gente com o sol lambendo macio as nossas bochechas.
de repente se ver forjando um faquir de araque, inventando de só comer uma vez por dia aquele peixe assado que derretia na boca depois de muitas horas regadas a brisa e caipirinha. dias a fio assim. falando quase nada. faquir também de palavras. olhando e reparando muito, achando ter descoberto alguma verdade.
verdade é uma preguiça bem-explorada. verdade é muita safadeza quando a luz acaba e ainda existe uma lua gorda e amarela em cima servindo de desculpa. verdade é tapioca fresca na mesa do café. mesmo as fajutinhas que a menina da pousada fazia, doida pra mandar logo embora os chatos e ter o merecido descanso da baixa temporada.
vai ver foi ela que botou o casal sapo na porta do quarto naquela noite, bem na hora da gente sair pra ir atrás do peixão assado. claro que foi ela. e sapo lá sobe escada? chutamos levemente os verdinhos varanda abaixo e aí foi que a macumba ganhou força de vez. era chuva que deus dava e os livros se acabaram todos, numa dentada. um tédio de plantar bananeira dentro do quarto.
na lancha de volta, vim coberta de um toldo amarelo, ouvindo a água. comprei na baía de Camamú uma calcinha numa banca de rua e uma cocada num mercado feio. a calcinha eu já perdi. a cocada, comi só a metade.
4 comentários:
Maria Lutterbach,
É bom te ler, de verdade da fresca
o toldo amarelo você deve ter desprezado né?
Esse e o de baixo são amarelos. O de cá, um amarelo de sol molhado de preguiça e o de baixo um sol que maltrata.
Ensolarei-me.
Beijos apertado
maria, adorei seus textos...bom ter notícias suas!
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