pense.

para reconhecer um caubói galego, tente enxergar pela fresta da camisa sua pele rosa.
e por trás das lentes, uns olhos cor-de-melado, com cílios bons.
repare que esses olhos aprenderam a ser espremidos pra enfrentar o sol do sertão, de onde veio o caubói um dia e pra onde ele voltará, quando os marrecos gritarem tão alto a ponto de o chamado zunir bem dentro do ouvido.

acompanhe o caubói galego em seu deslizar firme pelos temíveis territórios do condado.
mas não olhe tanto, ou poderá ser laçada num click.
em algum lugar, atada no seu corpo ou escondida na bota marrom, ele leva uma corda infalível, daquelas de fazer engenhosos nós de desejo nas entranhas das moças.

vez por outra, pode também engajar-se numa só amarração. se desafiado por uma dama que lhe afasta das lendas áridas do oeste, o caubói é homem o bastante pra jogar nessa muchacha todo o feitiço que espalha em tempos de bang-bang declarado.

sinta, quando ele passar, o cheiro de delírio que os cavaleiros de primeira linha derramam pelas pradarias. uma combinação de todo o álcool já brindado com uma nota ácida pra espantar assombrações e uma grande pitada de dama-da-noite, perturbando tudo de vez.

mire o caubói indócil entre seus comparsas, destilando o mundo em devaneios etílicos que explodiriam o mais gordo dos balõezinhos de HQ. ouça como a voz desse galego avança pelo asfalto, a debochar dos fracos que dançam ao som do fado errado.

agora corra, com todo fôlego, se quiser alcançá-lo, e se for mesmo páreo pro embate.

ou fuja. mas durma picada por uma dúvida que vai te botar febril e comendo poeira em sonhos agrestes on repeat.


[pra simone, dona do piscinão e das piscininhas que deixaram tudo mais refrescante por aqui. com purpurina, afeto ariano declarado e uma ola bem grande pra ela. beijo, zé!]