segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Comi meio pote de gel pra cabelo desses bem baratos durante um sonho ruim. O gosto tá grudado na minha boca há quase um mês, vai e volta e nada posso fazer a respeito. Não tenho a menor idéia do que possa significar, se é que isso pode ser realmente representado como alguma coisa obscura perdida na selva do meu subconsciente.

Já desperdicei algum tempo do meu ócio me perguntando que diacho esse rastro horroroso de gel faz impregnado na minha boca e a insistência nessa reflexão inútil provavelmente é resquício de uma herança da minha família, predominantemente feminina e seguidora convicta dos preceitos da psicanálise. É Lacan no céu e a mulherada se lamuriando no consultório. Sempre tive a impressão de ouvir uma espécie de mantra, transmitido certamente ainda via cordão umbilical: "Analise-se, analise-se".

Somos mulheres em um número além da conta; entre nós, psicanalistas e psicanalisadas sem fim, todas devidamente empoleiradas sobre suas longas e belas pernas porque na família, além de neuroses, também cultivam-se belas pernas e um resto de glamour suíço que vovó tentou nos deixar. O glamour tem se esvaído com o tempo, mas da análise ninguém escapa, nem os machos, tão mais resistentes à prática.

Quem tentou fugir foi laçado e os que ainda não foram estão certos de que é tudo uma questão de tempo, como na estória de João e Maria - engordar o dedinho pra ser comido pela bruxa -, esperamos as neuroses crescerem e mostrarem as asinhas pra nos esparramarmos - plácidas - no divã à meia-luz.

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