Já passava das três da manhã e a cama tinha o calor equivalente a 25 bebês de oito meses urrando juntos em ebulição.
Lembrando doentiamente dos ossos pélvicos da antiga namorada e da veia que saltava no canto esquerdo de sua testa durante as brigas intermináveis com a menina, D. se dá conta de que era melhor não se lembrar de nada, a começar mesmo pelos ossos, os cílios gigantescos e aquelas malditas panturrilhas, afinal, já tinha 29 anos e era urgente começar a nutrir frustrações mais nobres.
No escuro do quarto, agarrava o canto do colchão com as unhas e de tão aflito quase alcançava a proeza de unir permanentemente as duas sobrancelhas, soltando de vez em vez um suspiro daqueles apropriados pras coisas sem solução.