quinta-feira, dezembro 18, 2003

Não tô certa se foi numa quinta ou sexta, mas o calor era esse que vem atormentando, esse inferno que a gente sabe que vai chegar, mas só acredita quando deixa de raciocinar pra começar a praguejar o tempo todo. Muita coisa a ser feita e nenhuma disposição, as pessoas já se arrastando pela rua e nada que possa impedir a súplica coletiva por uma temperatura mais amena.

Nessa quinta ou sexta, teve a primeira chuva de verão das que são boas, aliviam, limpam um pouco o suor. Começou com uma ventaniazinha, pra quem usava saia foi realmente providencial, eu tive a sorte de estar andando na direção contrária à do vendo e fui me refrescando sem ficar com o cabelo todo na cara.

Nessa hora muitos já pressentiam a argumentação educada entre o calor e a chuva que estava pra começar, as ruguinhas de amolação no meio da testa eram suavizadas a cada quarteirão; vieram então os desejados pingos d’água e não eram pingos quaisquer: grossos, pesados, machucavam o rosto quando batiam.

Não foram muitos também, pareciam limitados por metro quadrado, em mim molharam as têmporas, as dobrinhas dos braços, os tornozelos, o colo e os joelhos. Enquanto caminhava, notei o despeito dos que estavam dentro dos carros abafados e não puderam sentir a água; vi ainda o deleite dos que voltavam caminhando do trabalho, exaustos mas presenteados, dos meninos que saíam da natação e tiravam seus roupõezinhos azuis no meio da rua e das domésticas de batom que iam, consternadas e com os biquinhos rijos, comprar o pão pro lanche da tarde.

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