Dessas senhoras que por toda a vida tocaram os dias sendo mães, esposas, donas-de-casa. É a mulher que arranjou os pães na cesta, decidiu que aquela meia estava gasta demais, escolheu a faca certa pra geléia, pôs os cobertores no sol, aprendeu que na casa um comia isso e não aquilo e que o outro gostava da camisa de um jeito assim e não assado.
De perto, o cheiro de naftalina na bolsa, o descascado na fivela dos chinelos e a estampa da sombrinha que de tão cafona vira um fetiche. De longe, uma névoa de vestidinhos em tons pastéis e corte anos 60 carregando donas antigas assim pelos bairros, numa peregrinação sem começo nem fim por açougues, padarias e sacolões.
Eis que, num sábado concedido, entre moças e seus faniquitos no salão de beleza, as bocas tortas de tanto falar e transpirando o medo de que os anos lhe escorreguem entre os dedos, a lindeza das senhoras impera em sua abdicação.
Cuidando das unhas, assistem ao sonho e ao inferno de seus matrimônios de gaveta serem retocados por pinceladas delicadas nas mãos e pezinhos enrugados e têm uma parte do olhar reservada àquilo que nem desejam mais desfrutar.
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