De meninas e cadelas em sofás rasgados
Toco o interfone e um latido imediato me responde antes que o portão seja aberto. Belita recebe todos que chegam à casa para o aniversário. Vai até a porta e espia de longe quem chega. Se não conhece a figura, corre pra debaixo da mesa; se lhe parece familiar, espera sentada pelo agrado.
Primeiro, fugiu de mim, mas por pouco tempo resistiu ao meu chamego sincero esparramado em voz e mãos pra bicho. Depois de me sentir à vontade na casa e me aconchegar no sofá arranhado por ela, trocamos olhares cúmplices.
Lá estava. Éramos menina e cachorra entendendo o que se passava. Caminhamos ao segundo tempo.
Senti suas pelancas quentes, a orelha enorme aveludada e notei os mamilos de mãe-inevitável. Quase tive inveja de sua vocação materna instintiva.
Ela não precisará aprender a ser amiga de suas crias ou perderá noites de sono pensando em como suas ações poderão determinar o caráter dos seres pequeninos expulsos de seu ventre. Será mãe, apenas. Com suas tetinhas rosadas e sua expressão de monarca entediada.
Cansou-se rápido de minhas conclusões, virou a barriga pra cima, mexeu os olhinhos aflitos e exigiu carinhos mais incisivos. Uma legítima cadela.
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